Hoje vou descrever a minha primeira experiência na maratona.
Introdução: Quando acabei os estudos, pensei num grande desafio. Como já praticava atletismo e tinha várias participações em meias maratonas, pensei que um grande desafio, seria encarar a participação numa maratona e a de Lisboa teria lugar no final desse ano, que foi 1988. Quem diria que já decorreram 21 anos.
Então foi asssim:
Preparação:
As minhas férias laborais estavam marcadas para Agosto. A minha mulher encontrava-se a trabalhar e como eu não ía para fora sózinho, iniciei a preparação a maratona. Comecei de uma forma suave, passei de treinos diários para bidiários, uma a duas vezes por semana. Fui aumentando quer o tempo, quer a intensidade dos treinos. Depois comecei a fazer treinos mais longos ao fim de semana, de 1h40 minutos, 1h50 minutos e fui até às duas horas de treino. Fiz este tipo de treino durante três meses, chegando a fazer 120 kms por semana.
Embora já tivesse muitos anos de prática, a minha experiência técnica de treino era reduzida. Os ritmos, as cargas, as intensidades eram conceitos que não dominava. Os ciclos e mesociclos, os planos de treino, etc, vieram depois com a teoria e prática adquirida nos cursos que fui frequentando ao longo dos anos.
Fazia vários treinos acompanhado, principalmente os treinos longos, por amigos que também se estavam a preparar com o mesmo fim.
Nunca fiz muito trabalho específico, mas consegui descobrir o meu ritmo óptimo.
Li vários artigos e entrevistas de praticantes da modalidade e segui alguns conselhos.
Ou seja: Fiz alguma preparação psicológica, tive cuidados com a alimentação e com a hidratação, antes e durante a prova.
Fiz a dieta hiperglúcida ou escandinava na semana que antecedeu a prova, que me foi muito útil e nunca mais abandonei na preparação para as maratonas.
Sensações: Sempre me senti bem na preparação embora nos primeiros tempos de adaptação, tivesse acusado algum stress. Acordava de noite e não conseguia dormir devido ao cansaço. Na semana que antecede a prova, principalmente nos primeiros dias, sentia muito desconforto devido á quase ausência de hidratos de carbono na alimentação, sentia dores musculares e fome, apesar de comer imensa salada, carnes e peixes grelhados.
A maratona:
No dia da prova levantei-me cedo, cerca das 6H da manhã. Comi bem e bebi. Massa cozida com um pouco de azeite e alho e bebi àgua, depois comi uma peça de fruta e bebi chá.
Desloquei-me para o local da prova, Jerónimos em Lisboa. Estava uma manhã agradável apesar de ser início de Dezembro. Céu encoberto, mas não chovia nem estava frio.
Fiz um pequeno aquecimento e às 9:00h foi dada a partida para os cerca de 600 participantes. Era de facto a minha primeira grande aventura. Não fazia a menor ideia do meu valor, que tempo final poderia fazer embora já tivesse realizado tempos interessantes em meias-maratonas. Sentia um misto de ansiedade, receio, ambição e insegurança. Mas também não era o tempo final que mais me preocupava, queria sim era acabar bem.
Um dos meus companheiros de treino, que também participou, tinha feito no ano anterior, menos de 2:35, portanto eu tinha aquela referência como grande objetivo. Até porque ele não me fugia nos treinos e a ideia era andarmos juntos na prova.
Após a partida juntámo-nos a um grande grupo, cerca de 15 atletas, mas eu andei sempre resguardado na parte de traz do grupo. O percurso era entre Algés e Terreiro do Paço terminando nos Jerónimos, duas voltas. Na segunda metade da prova, depois da meia maratona, começou a chover e fazia-se sentir algum vento que dificultava a progressão. O grupo começava a ficar mais reduzido. O meu amigo começou a ceder e eu disse-lhe: - Faz um esforço agora para não descolarmos do grupo, porque com o vento que está se ficamos sózinhos não conseguimos acabar. Ele disse-me: - Vai tu que eu não consigo. Ainda insisti, mas quando olhei para traz ele já lá não vinha. Eu lá fui,
ìa confortável, descontraído e com a moral em alta. O vento, cada vez era mais forte e por vezes obrigava-nos a tropeçar uns nos outros. O grupo ficava instável e sugiam alguns comentários e animosidades entre os atletas. O esforço já era muito, a lucidez começava a faltar e o pessoal não queria trabalhar. Ouviam-se comentários do género – vocês não sabem correr! Vejam lá se também puxam! Mas lá fomos andando até ao último retorno que se situava no Terreiro do Paço. Estavam cerca de 35 kms percorridos e a partir dali o vento passava a estar a favor. O grupo que tinha sido enorme, encontrava-se reduzido a 7 elementos. Sentia-me muito bem, apesar de estar sempre a pensar no “muro” dos 30 kms que nunca mais aparecia.
Então pensei: - Bom já só faltam 7 Kms! Afinal não há muro nenhum, agora só me param nos Jerónimos e lá mudei de ritmo, arranquei por ali fora! Imprimi um ritmo forte e só um companheiro do grupo me acompanhou, foi o Henrique Helder. Fui aumentando cada vez mais o ritmo, estava altamente motivado porque ía passando outros atletas que entretanto quebravam. Aos 40 kms já estava sózinho e ainda muito bem, nem queria acreditar. Estava quase a acabar a minha primeira maratona, num tempo excepcional e sem me “doer” nada. Concluí a maratona em crescendo com o tempo de 2:32:25, fabuloso para primeira vez, 20º lugar da Geral. Sorte de principiante que nos dias que correm dava para Top 5, quem diria heim!
Dicas:
Nunca esquecer: O difícil não é a maratona, o difícil é treinar para ela.
A recuperação é mais importante que o treino.
Ou seja: A maratona não custa desde que estejamos bem preparados. Desde que tenhamos uma ideia muito próxima e real do que valemos, saibamos encontrar o nosso ritmo de passada óptimo, em termos de economia de esforço. Não sejamos demasiado ambiciosos, mesmo depois de muita experiência. Tenhamos cuidado com a hidratação, antes e durante a prova. É também muito importante: Escolher um bom sapato e equipamento.
Por fim, não descurar a recuperação pós prova. Uma semana de pouco treino e um mês sem competir.
Agora coragem e boa sorte.
3 comentários:
Muito boa descrição!Gostei especialmente da parte..." mas eu andei sempre resguardado na parte de traz do grupo", factor muito importante tb no duatlo/triatlo no segmento de ciclismo..! Falta apenas descrição mais detalhada da dieta efectuada. Continuação de boas provas.
Quanto à dieta:
Esta resume-se na redução de hidratos de carbono nos 3 primeiros dias da semana, (chá, saladas, ovos, carne peixe, azeitonas, manteiga, etc) e nos 3 dias que antecedem a prova, aumenta-se a quantidade dessas substâncias, (arroz, massas, pão, batatas, etc. com pouca carne, peixe...). Ao tempo, revista Spiridon publicou uma receita tipo.
Olá,
Apesar de seus posts não serem muito recentes gostei dos conteudos. Devo dizer que temos muitas coisas em comum, acho eu: corridas de aventura, maratonas, natureza. A diferença é que suas performances são infinitamente superiores às minhas. Abaixo o meu blog, caso tenha tempo de ver.
Um abraço e continue postando
W.Avila - Campinas Brasil
http://www.minha-primeira-maratona.blogspot.com
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