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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

IRONMAN A Realização de um sonho.

O IRONMAN é de facto um desafio enorme!

Cansa só de pensar que temos de nadar 3,8 Kms, andar de bicicleta 180 Kms e depois correr uma Maratona!

Mas é mesmo assim. São estas as distâncias e é este o desafio que põe à prova as nossas capacidades físicas e mentais. Que nos transforma, tornando outros homens/mulheres capazes de enfrentar tudo sem medos, sem receios e com um enorme orgulho de podermos dizer: EU CONSEGUI!!!

Pois meus amigos/amigas, este é um desafio que eu recomendo a todo e qualquer desportista, com saúde e “algum” tempo para treinar.

Porquê:

- Porque é o desafio dos desafios, é a “loucura das loucuras”, é uma experência única que nunca mais esquecemos. Conseguimos pôr à prova as nossas capacidades físicas, mentais, de organização, de persistência e de nunca desistir, porque o homem consegue sempre, desde que para isso se prepare.

Só para resumir: Depois de 30 anos a fazer desporto, vários títulos e vitórias conquistadas em diversas modalidades, faltava-me ainda Um IRONMAN.

Pois já fiz centenas de provas de atletismo, (curtas, médias e longas), dezenas de provas de orientação, pedestre e em BTT, dezenas de triatlos (curtos médios e longos), provas de canoagem, dezenas de provas de aventura e … uma operação a um joelho, portanto faltava-me mesmo este desafio!

O desafio:

O IRONMAN começou há cerca de 3 meses com o convite feito pelo meu amigo Lomba, também ele candidato à prova e um homem de uma resistência, preserverança e capacidades física e mental invulgares. Esse convite foi extensivo ao nosso companheiro e amigo de jornada Pedro Quaresma, também ele possuidor duma tenacidade e capacidade de sofrimento muito acima da média.

Depois vem a elaboração dum plano de trabalho para 10 semanas, tempo que mediava para a realização do evento. Elaborei um plano de treino de 2 ciclos de 5 semanas, contemplando a natação, a corrida e a bicicleta, com uma carga de treino máxima de 20 horas semanais, deixando alguns dias para regeneração.

Cumprido o treino programado, (por vezes excedido), parte dele efectuado com temperaturas pouco próprias devido às altas temperaturas da época estival, sentíamos alguma ansiedade, mas muita confiança para obter em Barcelona, prestações condizentes com o esforço e dedicação despendidos, embora neste tipo de provas exista um enorme grau de incerteza e imprevistos incontornáveis.

Na ante-véspera da prova iniciámos a viagem de 1 300 Kms, de carrinha até ao local do evento.

Foi uma viagem desgastante e cansativa, mas muito animada e de forte convívio. Chegámos já bastante tarde devido à distância e a vários engarrafamentos nas cidades mais densamente povoadas do País vizinho.

A noite foi mal dormida por falta de adaptação ao local e devido ao stress pré-competitivo que já se fazia sentir. No dia seguinte, véspera da prova, após o pequeno almoço, começámos a sentir verdadeiramente o IRONMAN. Foi o levantamento dos dorsais e outro material de identificação, assistir ao Briefing da prova, começar a preparação dos equipamentos com montagem das bicicletas e reconhecimento do precurso e ainda fazer o Check-in das bicicletas, dado que no dia seguinte a prova tinha início às 7h30m, praticamente ao nascer do dia.

O relógio não pára e os participantes também não: À que jantar e deitar cedo porque o pequeno almoço está marcado para as 5h30m da manhã. É preciso fazer a digestão antes de entrar na água e as reservas de hidratos de carbono são fundamentais para as horas de esforço que se avizinham.

Vamos para a cama, mas não dormimos: O sistema nervoso, a adrenalina e o facto de estarmos em cama estranha, são as razões. O ritmo cardíaco aumenta sem motivo aparente.

Dia da prova: Após o pequeno almoço bem farto, as várias centenas de atletas deslocam-se numa calma aparente, para a zona da prova, afim de verificarem pela última vez a localização dos seus equipamentos e ultimar alguns preparativos de última hora. A tensão aumenta com o aproximar do tiro de partida. Sem o demonstrarem todos estão nervosos. Verifico o meu ritmo cardíaco que normalmente em repouso se situa nos 50 bpm, mas que no momento se situava acima dos 70 bpm.

São desgastantes os últimos momentos… As partidas são efectuadas por vagas, espaçadas de 2 minutos devido ao nº de participantes em prova. É para evitar confusões.

Mas finalmente tudo isto se acaba: É dado o tiro de partida e começa a nossa luta contra o tempo. Saltamos para a água sabendo que o nosso esforço tem que ser muito bem gerido. Máxima concentração para não haver enganos e evitar as alforrecas, que abundam nestas águas. São 3 800 metros a nadar, mas é a parte mais fácil da prova. Senti um prazer enorme neste segmento. Sempre nas calmas, com outros parceiros por perto, sem confusões, mar calmo e temperatura muito agradável. Pensava fazer 1h15m neste segmento, quando saí da água tinha 1h17m o que considerei muito bom e ganhei um ânimo extra para o que vinha a seguir.

Claro que a competição ainda mal tinha começado, mas a motivação estava intacta e cada vez me sentia mais confiante, pois a natação sempre fora o meu pior segmento. No entanto, quando ponho os pés em terra, começam logo as contrariedades, o dorsal rasgou-se e estava solto dentro do fato isotérmico. Mais grave é que o mesmo é imprescindível e eu não tinha forma de o prender. Nestes momentos de competição em que todos os segundos contam, não podemos entrar em pânico, temos de pensar bem e agir rápido. Foi o que fiz. Meti o dorsal dentro dos calções e avancei para a bicicleta. Claro que o primeiro juiz que encontrei me perguntou de imediato pelo dorsal e lembrou-me que o mesmo tinha de estar colocado. Expliquei-lhe a razão e lá me deixou partir para o segmento de ciclismo. Situação que se veio a repetir ao longo do ciclismo por várias vezes, tendo novamente de explicar que o papel não tinha qualidade e se tinha rasgado, portanto ali não tinha condições de o levar colocado.

Durante a corrida e para obviar a mais explicações, arranjei 2 alfinetes para garantir que em caso de necessidade pendurava o dorsal.

O segmento de ciclismo ia decorrendo dentro da normalidade e sem muito desgaste. Sempre com muita atenção à hidratação que a organização fornecia como sejam água, fruta e produtos ricos em hidratos de carbono, (líquidos, gels, barras energéticas). Mantive sempre uma média de 30 kms/h e uma frequência de pedalada nas 80 rotações por minuto.

Findo o ciclismo vem a parte sempre mais difícil, que é o segmento de corrida. Se uma maratona só por si já é muito desgastante, (já tinha a experiência de 8 ao longo de 20 anos). A maratona percorrida depois de mais de 7 horas de esforço competitivo, o seu grau de dificuldade sobe exponencialmente.

Mas lá se vai! A vontade de chegar ao fim é muita. De inicio a corrida custa um pouco, é a fase de transição e de adaptação dos músculos a outro tipo de esforço. Passados alguns kms lá entramos no ritmo, passada certinha, curta e decidida. Os kilómetros vão passando e a certeza de acabar o IRONMAN começa a pairar no nosso pensamento. No entanto as horas de esforço elevado já são muitas, o desgaste físico é enorme e o corpo começa a querer ceder. Ainda faltam alguns kilómetros e os últimos são os mais difíceis de percorrer.

Olhamos para o lado e vemos centenas de “loucos” como nós, que há vários quilómetros atrás deixaram de correr para andar. O cansaço foi mais forte! Muitos vão mesmo ver o seu esforço sem glória porque não chegam ao fim antes da hora limite (meia-noite) e são desclassificados. Tudo nos vem ao pensamento durante tantas horas de "solidão", rodeados de tanta gente, mas a palavra desistir não faz parte do léxico destes seres, (por vezes irracionais).

Naqueles momentos de maior fraqueza, temos é que ser fortes e ter pensamentos positivos, porque a prova só começa verdadeiramente a partir, dos 30 quilómetros de corrida. Os metros não passam, o coração já não aumenta o ritmo, as pernas só nos dão a informação de parar, mas a cabeça é que controla e ordena - É para continuar... não paras!

Vale o nosso querer e as palavras de incentivo dos outros companheiros, (vai!... está quase!..força!... ânimo!...), e do imenso público que durante todo o dia assiste ao espectáculo, ( grande generosidade a daquele público!).

Vem-nos então à memória: - força que já só faltam X quilómetros! Mas a verdade é que estes cada vez custam mais a percorrer. Aos 35 Kms pensamos: Está quase, mas o km 36 nunca mais aparece na imensidão daquela recta de 5 Kms. A situação vai-se repetindo km após km, o tempo a voar e o ritmo cardíaco já não passa os 124 bpm, o coração também começa a ceder!

Chegados aos 40 kms, que é outra grande referência nesta luta, e novamente o pensamento do optimista—áh campeão , está quase, só faltam 2 kms! E lá vamos levando a cruz ao calvário, cada quilómetro percorrido é mais uma batalha ganha, mas estes parecem cada vez mais longos, até que… lá está a meta, a alegria, a satisfação e o sentir do dever cumprido começa a apoderar-se de nós , e pronto: É o máximo, é o aplauso, são sensações únicas que não têm explicação e só são entendíveis quando vividas na primeira pessoa.

Finalmente vem o desfrutar e a recuperação que é para mim a parte mais importante destes grandes desafios, porque só descansando e recuperando convenientemente podemos manter a qualidade de vida e ir planeando e realizando outros sonhos, sempre num processo de aprendizagem e tentativa de melhoria e superação.

É evidente que estas conquistas são mais do que o trabalho e a dedicação de quem treina e planifica esse treino. São normalmente o resultado de uma equipa ou conjunto de pessoas que participam com o mesmo entusiasmo e dedicação, apoiando no que podem e quanto podem!

No meu caso, dedico esta vitória e deixo um forte agradecimento:

À minha família, que sem reservas, sempre me apoiou e compreendeu as minhas ausências, tendo inclusive estado ao meu lado durante estas longas 11 horas. Aos meus amigos do Fundão e Queluz que me acompanharam nos longos treinos que realizei, sempre com muita alegria, disponibilidade e vontade de ajudar. Aos meus companheiros de jornada que sempre mantiveram ânimo para treinar apesar do pouco tempo disponível, abdicando do merecido descanso das férias para assim poderem melhorar o seu nível físico.

Por fim, mas não por último, ao CLUBE Millenniumbcp que nos apoiou e deste modo tornou possivel o nosso exito.

AINDA:

Para quem tiver curiosidade ou gostar de estudar estas coisas, aqui ficam alguns dados estatísticos da minha prova:

Nas últimas 10 semanas treinei 206 horas.

Tempo de treino máximo de bicicleta 5 horas, de corrida 2 horas e natação 1 hora.

Durante e prova, na bicicleta e na corrida consumi 7074 calorias, sendo que demorei 1h17m na natação, 5h57m no ciclismo à média de 30,2 kms/hora e com uma frequência cardíaca média de 141 bpm. No atletismo: efectuei a maratona em 3h52m, fcm 132 bpm e a 5minutos e 31 segundos ao kilómetro.

Tempo de prova 11h7m11s, com 1º lugar no meu e escalão etário.

Um abraço e até … à próxima.

Nota: Para quem desejar disponibilizo o plano de treinos e outras informações!

4 comentários:

sica disse...

Parabéns IronMan, o dorsal tinha ficado tão bem sequinho dentro da tenda de transição, isso foi o hábito dos sprints.
Excelente resultado a coroar o esforço e dedicação.

Feijão disse...

Obrigado. É de facto o hábito e a falta de experiência nestas coisas.
Foi apenas o primeiro IM!!!
Feijão.

david caldeirao disse...

Grande Feijão!!! realmente nunca é tarde para começar nova etapa...
PARABENS "velho" amigo!!! ;-)
forte abraço

IronMena disse...

Grande CAPITÃO, mais uma vez PARABÉNS!

Arrepiei-me quando li o teu relato, porque revivi todas as emoções e sensações que eu própria vivi no "meu" Ironman! Senti como se fosse eu, e como compreendo tudo o que descreves!

Quem faz 1 IM pode-se "gabar" para sempre, dizem... Agora podes garabar-te para sempre!

Mas como tu és como eu... o pensamento já está no próximo LOL!

Senão chegaste a ler o meu relato, vê aqui:
http://roadtolimburg226.blogspot.com/2010_06_01_archive.html